Rio Innovation Week e o futuro que já mastiga o presente: três reflexões para quem vive de criatividade e inovação

Sair de um evento como o Rio Innovation Week é uma experiência de imersão. São quatro dias de um bombardeio de informações, reencontros, novas conexões e um zumbido constante de ideias que ecoa na cabeça por dias. Passada a efervescência, o desafio é encontrar o fio da meada, o sinal em meio ao ruído. O que, de fato, fica para nós que trabalhamos na intersecção entre comunicação, criatividade e o arcabouço jurídico que tenta dar conta de tudo isso?

Mais do que uma lista de palestras, compartilho aqui as reflexões centrais que trouxe do evento – e que, acredito, devem pautar a estratégia de negócios criativos e escritórios de propriedade intelectual daqui para frente.

A conversa incontornável: inteligência artificial, direito e a redefinição da criatividade

Se havia um tema onipresente em quase todos os palcos, era a inteligência artificial. A boa notícia é que, em muitos painéis, superamos a fase do deslumbramento com a tecnologia para entrar na discussão que realmente importa: a de suas implicações práticas, jurídicas e estratégicas.

Foi esclarecedor acompanhar as falas de especialistas como Allan Rocha de Souza e Luca Schirru sobre IA e Direito Autoral; do advogado Renato Opice Blum sore IA na prática jurídica; os grandes Sérgio Sá Leitão e Bia Willcox falando sobre o papel do humano nessa história toda; e a futurista Amy Webb. A conversa não é mais se a IA vai impactar a produção criativa, mas como vamos regular, proteger e monetizar o que é gerado nesse novo cenário. 

Para empresas do audiovisual, da música e do mercado editorial, assim como para os escritórios que os representam, a questão é urgente – e ignorar essa discussão é uma vulnerabilidade de negócio. A atuação do INPI nesse ecossistema, também debatida no evento, mostra que a institucionalidade corre para se adaptar. A pergunta que fica no ar é: sua empresa está preparada para essa corrida?

Entre a solução e o problema: onde fica o humano na economia da atenção?

Outro ponto que pulsava nos corredores era a tensão entre a promessa de eficiência tecnológica e a necessidade de conexão humana. Em um mundo saturado de conteúdo otimizado por IA e com a nossa atenção sendo disputada a cada segundo, qual o valor de uma marca?

A resposta parece estar, cada vez mais, na autenticidade da narrativa e na clareza da comunicação. As conversas sobre Legal Design e Visual Law, sobre tráfego pago e sobre os estudos da Globo Gente apontam para o mesmo lugar: a necessidade de traduzir o complexo em algo simples, humano e direto. O risco que corremos, ao abraçar a inovação sem critério, é o de um futuro onde a tecnologia serve apenas para otimizar o extrativismo de dados e o engajamento a qualquer custo.

Para negócios criativos, cujo principal ativo é a voz única e a visão de mundo, construir uma comunicação que resista a essa lógica não é apenas “marketing”, é estratégia de sobrevivência.

Uma nota local: a vocação de Niterói para o futuro criativo

Como profissional que vive e trabalha em Niterói, foi gratificante ver o envolvimento da cidade no Rio Innovation Week. A vocação de Niterói para a criatividade, inovação e tecnologia é um trunfo que precisa ser cada vez mais explorado. Temos um potencial imenso para expandir nossa atuação nas áreas de cultura digital, economia criativa e propriedade intelectual, criando um ecossistema forte e com identidade própria. Que o evento sirva de catalisador para que mais empresas e profissionais locais assumam esse protagonismo.

Da efervescência à estratégia

No fim das contas, a principal lição de um evento como o RIW talvez seja esta: as ideias, por si sós, não movem o ponteiro. É a nossa capacidade de traduzir a efervescência do momento em ações estratégicas que fará a diferença. A inovação não está apenas na ferramenta, mas no que decidimos construir com ela.

Afinal, a tecnologia mais poderosa ainda é uma boa história, bem contada – porque nós ainda somos humanos.